quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Capítulo 2: O Que é Ensinar?

(PEARLMAN, Myer. Ensinando com êxito na Escola Bíblica Dominical. Traduzido por Rejane Caldas. São Paulo: Editora Vida, 1995. 92 p.)

Ensinar não é apenas narrar fatos, porque o aluno não compreende tudo que ouve, e neste caso seria difícil mantê-lo atento; não é a repetição de frases decoradas e recitadas como uma "ladainha". Ensinar pode ser definido assim: é despertar a mente do aluno para captar e reter a verdade. É mais que partilhar com outros as verdades que possuímos; é motivá-los a pensar por si mesmos, de tal modo que cheguem aos fatos. Para conseguir o propósito exposto nesta definição, é necessário seguir quatro princípios que são o verdadeiro fundamento do ensino, e que abarcam todas as regras relativas ao ensino. Teremos neste estudo a explicação destas regras de uma maneira simples e clara. Em outras palavras, aquele que deseja ensinar corretamente, com eficácia, não só deve fixar-se nestes quatro princípios, mas deve também colocá-los em prática.

l. O professor tem que fazer com que o aluno pense por si mesmo

É necessário que o aluno use suas ideias e palavras, chegando a conclusões próprias; que aprenda a lição por si mesmo, descobrindo por si as verdades que você quer ensinar.
Que quer dizer a palavra "educar"? Literalmente quer dizer "tirar sutilmente" por meio de perguntas ou sugestões o que está na mente do aluno, e conduzi-lo às atividades de que ele é capaz. Em outras palavras, a educação não fabrica a máquina; apenas a faz funcionar. O professor mais competente é o que capta a atenção do aluno, desperta sua inteligência, engendra o interesse e o desejo de aprender; e então, coloca diante dele o material com o qual possa formar conclusões próprias.
Ensinar não é encher a mente de conhecimento, como se enchia antigamente um fogão a carvão, mas aproveitar as matérias-primas através de perguntas, sugestões e ideias oportunas; em outras palavras, tenta-se fazer funcionar a máquina da inteligência para que dê o produto ou resultado final; o pensamento bem racionalizado.
"Aprender é ensinar-se a si mesmo." Um professor experimentado escreve: "Devemos permitir que este instinto trabalhe livremente nos alunos." Não descubra você a verdade; é melhor ocultá-la um pouco e guiá-los por meio de perguntas hábeis, motivando-os bastante para que a descubram por si mesmos, tenham o prazer de levantar o véu e encontrar por seu próprio esforço a verdade que você tenta ensinar. Não importa que pensem que descobriram a verdade sem sua ajuda. Isto não deve incomodá-lo, pois o importante é fazê-los pensar e raciocinar; não se concentre no muito que você sabe, mas em quão maravilhosa é a verdade.
Seu triunfo ocorrerá no momento em que um de seus alunos vier contar-lhe da grande descoberta que ele fez, e ao mesmo tempo você constatar que é exatamente o que você queria que ele aprendesse. A glória suprema de ensinar é fazer com que o aluno creia não que você ensina a ele, mas que ele é que ensina a você. Que você estimule a atividade intelectual de seu aluno, fazendo-o descobrir as verdades por si mesmo.
É possível que você se lembre de um grande professor de sua juventude que ficou de pé lá fora, humildemente, enquanto você entrava no novo castelo da verdade através de uma porta que ele abrira—em silêncio—para você.

2. O professor tem que explicar as novas verdades baseado em verdades que o aluno já compreendeu


Ensinar é explicar o novo baseando-se no antigo, isto é, o desconhecido em relação ao conhecido; o difícil em relação ao fácil; o obscuro em relação ao claro. Este é o único meio de chegar-se ao conhecimento verdadeiro das coisas, e o melhor método para sua compreensão; porque cada nova ideia tem de ser relacionada com o material que o aluno já possui na mente.
Por exemplo, pergunto à minha classe: "Quantos já ouviram falar dos Chasidim?" Não recebo nenhuma resposta, apenas olhares vazios, pois meus alunos não sabem se os Chasidim são um partido político, uma doença ou uma nova marca de margarina. Este nome é algo muito novo para eles, e não desperta nenhuma imagem em sua mente. Mas suponhamos que explico então que Chasidim é o nome de uma seita judia, na Europa Central, que acredita na manifestação visível do Espírito Santo e ensina que a religião deve ser mais vital e emocional que a que é praticada por outros judeus. Visto que professa um ideal mais elevado, poderíamos descrevê-la como um movimento de santidade na sinagoga judia.
Será que agora os alunos compreendem quem são "os Chasidim"? Sim. Por quê? Porque usei ideias e termos que conhecem. Eles usaram suas próprias faculdades mentais para explicar a palavra. A palavra estranha já não é "tão" estranha; foi apresentada pelo professor por meio de dados conhecidos dos alunos. Neste caso passamos do desconhecido ao conhecido.
Suponhamos que queremos dar a uma criança de cinco anos uma ideia da forma da terra. Você acredita que a criança nos compreenderia se disséssemos: "A terra tem forma esférica"? Claro que não, porque essa seria uma explicação muito abstrata para uma criança. Ela não compreenderia nada. Ao contrário, se você lhe disser que a terra em que vivemos é uma bola muito grande, redonda como uma laranja, é quase certo que ela vai captar a ideia, porque você lhe ensinou algo novo, baseando-se em um conceito que ela já conhece.
Resumindo, o professor eficiente realizará sua tarefa baseando-se sempre em verdades e imagens que seus alunos já conhecem, e as associará para ajudá-los a descobrir novas verdades.

3. O professor deve levar em conta o desenvolvimento mental de quem receberá a lição

Isto é importante, para que você adapte o tema à capacidade do aluno, à sua idade e experiência. Por exemplo, ao ensinar em uma classe de pequeninos, você jamais deve falar de "regeneração", ou de "arrebatamento antes da tribulação", porque estes são termos abstratos que as criancinhas não compreenderão. Você deve compartilhar as verdades, subentendidas nas palavras teológicas, de uma forma que possam ser assimiladas pelas mentes tenras das crianças, e que lhes atraia a atenção e o interesse.
Paulo, o apóstolo, usou este princípio. Ele tinha apenas um evangelho para judeus e gentios; mas estude seus sermões no livro de Atos, e você poderá notai" que ele servia alimento divino de um modo aos judeus e de outro aos gentios. Certa vez ele relacionou o evangelho com as doutrinas do Antigo Testamento, e os judeus entenderam perfeitamente; e em outra ocasião relacionou o evangelho com o "livro da natureza" e os gentios compreenderam também.
O verdadeiro professor conhece e compreende as peculiaridades, os interesses e as atividades que pertencem a cada período do crescimento e desenvolvimento de seus alunos, e adapta seu ensino conforme o caso que se apresente, e de acordo com o desenvolvimento moral e espiritual deles. É preciso ajustar o microfone segundo a altura do orador. Se o orador anterior media 1,80 m e o próximo mede 1,60 m, o microfone é ajustado de acordo. Grande parte da habilidade do professor consiste em saber adaptar os ensinos espirituais à altura espiritual de seus alunos.

4. O professor fará o possível para relacionar a nova lição à anterior


Para associar ideias e conhecimentos na mente do aluno e promover um entrosamento uniforme e perfeito dos ensinos e doutrinas da Bíblia, é de suma importância que você relacione uma verdade com outra verdade, uma doutrina com outra doutrina e um acontecimento com outro acontecimento.
Sua tarefa de professor não é sobrecarregar o aluno de informações; ao contrário, você, a cada domingo, terá de dirigir amorosamente a construção de um edifício simétrico, o do caráter cristão, cujas bases descansam em verdades bíblicas. E para fazer isto, é necessário que você possua as "radiografias" para que possa trabalhar inteligente e eficazmente, obtendo os melhores resultados segundo o objetivo que você está perseguindo.
Falando em sentido figurado, se você, professor, quer conseguir pleno êxito no ensino, é preciso que escale a montanha da oração e do estudo. No topo da montanha você recebe o modelo divino para a edificação do tabernáculo do caráter e conhecimento de cada aluno. Então, como Moisés, você ouve a voz de Deus admoestando-o: "Vê que os faças conforme o modelo que te foi mostrado no monte." Êxodo 25:40.
Permita-me ilustrar este princípio supondo que a série de lições para o trimestre trate da vida de Cristo. Você está pronto para começar sua lição. Em certo ponto da introdução você dirá: "Hoje vamos estudar o Sermão do Monte, o qual nos ensina as leis do reino. Olhemos por uns momentos para trás e vejamos o quanto estamos adiantados na história do Rei. Em nossa primeira lição, consideramos a descida à terra e a natureza celestial do Rei; na lição seguinte vimos como o Rei foi recebido pelas diversas classes sociais; depois nos foi descrito o grande profeta que era o anunciador do Rei; e mais tarde, na lição do batismo e tentação de Jesus, fomos testemunhas da apresentação pública e da preparação particular do Rei Jesus, antes de seu ativo ministério.
"Na lição seguinte estudamos acerca do primeiro exercício de sua autoridade como Rei, quando chamou seus primeiros seguidores, futuros embaixadores de seu reino. Na lição de hoje veremos a proclamação das leis de seu reino, e no próximo domingo consideraremos o poder do Rei, que se destaca nos sinais e milagres que executa."
Que programa excelente esse! Parabéns! Em vez de apresentar o Sermão do Monte como uma porção separada das Escrituras, você o expôs como uma parte vital da vida e ministério de Cristo. Em outras palavras, você usou as lições anteriores do trimestre, sobre a vida de Cristo, como um meio de criar, ou formar um esboço na mente do aluno concernente à vida de Cristo.
Veja outro exemplo. A classe estava estudando o capítulo dois do Evangelho de Mateus. O professor disse: "Vejamos como o grande Herodes, o rei mau, foi incitado por Satanás a matar a todos os meninos de Belém, tentando destruir o Rei dos reis, nosso Salvador. Mas Deus pôs seus planos a perder. Agora, relembre por um momento a história do Antigo Testamento que nos relata como outro menino, que iria ser o libertador de Israel, escapou do poder do governante mau que havia ordenado que se matassem todos os bebês do sexo masculino, entre os israelitas."
Muitos da classe se lembravam da infância de Moisés e notaram a semelhança entre as experiências do mediador da Antiga Aliança e o da Nova Aliança. O professor continuou: "Neste mesmo capítulo Mateus nos diz que o Messias, quando era criança, refugiou-se no Egito para ser protegido, em vez de ficar na Palestina, onde serviria a Deus e a seu povo. Será que existe algo aqui que faz vocês se recordarem de algum fato semelhante no Antigo Testamento?"
É fácil que alguém na classe se recorde de que quando Israel era apenas uma família, a semente de uma nação, Deus a mandou ao Egito para preservá-la, e depois trouxe a nação ã Terra Santa, para servi-lo ali. Compare Êxodo 4:22 com Mateus 2:15.
Note o que fez aquele professor; ele relacionou uma história do Antigo Testamento a outra do Novo Testamento, de tal maneira que o aluno compreendeu que existe uma correlação entre elas; que são parte de um plano divino; e que muitos fatos do Antigo Testamento são tipos proféticos da vida, obra e ministério de Cristo.
Permita-me aplicar este princípio mais uma vez. A nova lição baseia-se na passagem em que Cristo alimentou a multidão. O professor diz: "Cristo alimentou a multidão no deserto. Que fato do Antigo Testamento lhes recorda este?" Alguém dirá: "Moisés, alimentando os israelitas com o maná, no deserto." O professor faz uma observação: "Este fato levaria muitos judeus a verem Cristo como o segundo Moisés, o Deus Enviado, o Libertador de Israel. Não é mesmo?"
O professor fez uma associação de ideias, e despertou conhecimentos anteriores relacionando-os com a nova lição. Ele continuou: "Deus, por meio de Moisés, alimentou os israelitas com alimento sobrenatural no deserto; Cristo também alimentou os famintos no deserto. Não é verdade, então, que ainda necessitamos do pão que vem do céu, porque o mundo em que vivemos é um deserto para a vida espiritual?" Ele prosseguiu: "Você pode lembrar-se de uma cerimônia sagrada que nos traga à memória que temos necessidade contínua do Pão espiritual, para nos manter espiritualmente sadios neste mundo, e que somente Jesus nos pode sustentar?" E natural que a resposta seja: "A Santa Ceia."
Aqui o professor fez uma associação de fatos históricos e doutrinários. E continuou: "Se ficarmos sem alimento, se não comermos, sentiremos fome. Se a privação continuar, ou o alimento for escasso, ficaremos subnutridos e doentes. De maneira semelhante, se nós nos descuidarmos do alimento espiritual, se deixarmos de orar e ler a Palavra de Deus, sofreremos de subnutrição espiritual; ficaremos fracos." Aqui o professor aplicou a lição à classe. E prosseguiu: "O mundo está cheio de pessoas que têm fome espiritual, sobrecarregadas de pecados, enfermidades e tristezas.
Cristo pode alimentá-las e satisfazê-las. Saiba que temos uma responsabilidade nisto, pois ele nos diz, como disse a seus discípulos: 'Dai-Ihes vós de comer.'" O professor deu uma explicação prática do texto, ao relacionar a lição com a responsabilidade missionária do cristão.
Em resumo: Você, professor, tem de relacionar constantemente as partes das Escrituras — comparando as histórias com as doutrinas, as profecias com seu cumprimento, os livros com os livros, o Antigo Testamento como Novo, os tipos com os arquétipos, para que o aluno aprenda que a Bíblia não é uma coleção de textos e de fatos separados, estanques, mas uma unidade viva, cujas partes estão relacionadas vitalmente umas com as outras, como os membros do corpo humano. Vimos depois que o professor precisa aplicar continuamente a lição ávida individual, e à coletiva, para que o aluno fique sabendo que todo ensino bíblico está relacionado com os fatos de sua vida. Nenhum ensino bíblico é teórico, sem aplicação prática.

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