terça-feira, 16 de setembro de 2014

Capítulo 13 - Ensinando Através de Perguntas


PEARLMAN, Myer. Ensinando com êxito na Escola Bíblica Dominical. Traduzido por Rejane Caldas. São Paulo: Editora Vida, 1995. 92 p.)

Há centenas de anos um sábio disse: "Uma pergunta sagaz é a metade do conhecimento." Esta declaração é verdadeira ainda hoje; boas perguntas proporcionam bom ensino, e quem sabe fazer boas perguntas geralmente é um bom professor. Na verdade, a pergunta é o instrumento mais útil e eficaz. As perguntas que você faz são valiosas porque obrigam os seus alunos a expressar-se, e assim completam o processo de aprendizagem. Talvez seu aluno tenha estudado a lição e ouvido sua explicação em classe. Isto causou uma impressão neles. Sua mente está cheia de pensamentos, sentimentos e problemas que se relacionam com essa impressão. Mas estas ideias não estão formadas de vez, na mente deles; são vagas e estão em desordem.
Mas, se você lhe fizer uma pergunta bem formulada, você estará pondo em movimento os rolamentos da mente do aluno. Leve-o a expressar-se e, em assim fazendo, o que ele estudou se aclara. Desaparecem a névoa e a confusão, e ele diz a si mesmo: "Ora, está tão claro; porque não pensei nisto antes?" Ele se alegra e surpreende-se com o que sai de sua própria mente.
Para produzir este efeito, as perguntas têm que ser hábeis e cuidadosamente preparadas. Para isto consideraremos os requisitos principais para formular as perguntas, e daremos algumas regras:
As perguntas são usadas para conseguir-se os seguintes resultados:
1. Desenvolver a lição.
2. Esclarecer a lição.
3. Fazer o estudante pensar.
4. Colocar ênfase nas verdades importantes.
5. Manter a classe ocupada.
1. Desenvolva a lição
Como a lição deve ser ensinada de forma ordenada, as perguntas devem ser preparadas numa ordem lógica. As perguntas da revista são mais para uso do professor, que dos alunos. Comece com perguntas simples para animar a classe.
2. Esclareça a lição
Para que as perguntas esclareçam a lição, não devem ser feitas de maneira que confunda os alunos. As seguintes perguntas confundem:
Perguntas compostas. Por exemplo: "Quem disse o que, e por que o disse, quando quase se afogou no mar da Galiléia?" (Veja Mateus 14:28). Aqui há em realidade quatro ou cinco perguntas: (1) Que aconteceu? (2) Quem gritou? (3) Que palavra gritou? (4) Porque gritou? (5) Como escapou?
Perguntas que contenham palavras técnicas, difíceis. Um dos princípios fundamentais do ensino é que a verdade deve ser adaptada à inteligência e ao conhecimento do aluno. Portanto a um grupo de adolescentes você não deve dirigir uma pergunta como a seguinte: "Foi premeditada a apostasia de Judas?" A Bíblia foi escrita na linguagem do povo; o Senhor disse: "Apascenta minhas ovelhas"; não disse: Apascenta minhas lanígeras. Nem meu gado ovino.
Perguntas que tenham mais de um sentido. Um professor perguntou a uma criança: "O que é preciso fazer antes que nossos pecados sejam perdoados?" A criança respondeu: "Primeiro temos que pecar." A resposta foi correta segundo o sentido em que a pergunta foi compreendida. A pergunta teria sido formulada melhor assim: "Se pecarmos, o que temos que fazer para ser perdoados?" Outra pergunta que poderia receber várias respostas: "Quem foi Pilatos?" Um romano; um governador; o que condenou Jesus a ser crucificado; um juiz.
Esta pergunta poderia ser desdobrada e mais bem formulada assim: "Qual era a nacionalidade de Pilatos? Qual era sua posição oficial? Qual era sua atitude para com os líderes judeus? Qual foi sua atitude para com Jesus?"
Perguntas vagas, como a seguinte: "Que acontece quando pecamos?" Esta poderia ser feita de modo mais definido: "Qual é o efeito do pecado na consciência, quando a pessoa peca?"
Perguntas que provocam discussões áridas, como a seguinte: "Por que Paulo estava fora da vontade de Deus quando foi a Jerusalém, depois de sua terceira viagem missionária?" Isto provocaria uma discussão inútil: "Mas estava mesmo fora da vontade de Deus?"
Perguntas longas. Por exemplo, a seguinte pergunta: "Vocês acham que nos dias do rei tirano e ciumento, que sempre suspeitava que alguém aspirava ao trono (o fato é que assassinou sua própria esposa e filho), seria prudente que alguém anunciasse o nascimento de outro rei (especialmente pelo fato de os magos o procurarem em segredo, sem divulgar notícias por toda a cidade) e se expusesse a si mesmo, e ao menino-Deus, à crueldade deste homem tão cruel, que sabendo que os judeus se alegrariam com a notícia de sua morte, mandou encarcerar alguns homens preeminentes em Jerico, para que fossem assassinados logo depois de sua morte, a fim de que a nação fosse obrigada a chorar pela sua morte?" Isto não é pergunta, é uma dissertação confusa.
Para resumir: as perguntas não devem confundir, mas devem ser claras e precisas. Não devem obscurecer o tema, mas jorrar luz sobre o terreno que será atravessado. As perguntas não devem revelar as respostas, porque isso impede o aluno de pensar. Que os alunos saibam muito bem o sentido das perguntas.
3. Faça o aluno pensar
"Nunca diga ao aluno o que ele pode dizer a você", eis um axioma antigo do ensino. Em outras palavras: "Dê ao aluno a menor quantidade de informações possível e exija dele o máximo de informações possível." O propósito do estudo e dos trabalhos práticos não é que o professor receba ajuda, nem que os alunos repitam as mesmas palavras que ouviram do professor, mas que aprendam e cresçam em Cristo.
Quando o camponês leva o grão para ser moído, não espera recebê-lo de volta da mesma forma que o levou; espera recebê-lo moído: a farinha, Você entrega o grão da verdade em sua aula, para que passe pelo moinho do estudo do aluno, de modo que se transforme no resultado almejado.
Se você quiser ter certeza de que seu aluno está verdadeiramente raciocinando, evite os seguintes tipos de perguntas:
Perguntas que sugerem a resposta. Por exemplo: "O que as pessoas devem confessar?" esta pergunta já responde a si mesma.
Perguntas que podem ser respondidas com um "sim" ou um "não". Tais respostas são meras conjeturas. Não dão sinal algum de que o aluno estudou, aprendeu e está raciocinando. Marion Lawrence nos diz: "Os alunos são bastante rápidos para dar a resposta que o professor quer, e chegam ao ridículo. Por exemplo, em nossa Escola Dominical, certa ocasião, o pastor fez uma experiência. Perguntou à classe toda com rapidez o seguinte:
— Alunos, vocês acham que devemos frequentar as aulas regularmente?
— Sim, pastor.
— Acham que devemos ser pontuais nos domingos pela manhã?
— Sim, pastor.
— Acham que devemos estudar nossa lição em casa?
— Sim, pastor.
— Acham que devemos trazer nossas ofertas todos os domingos?
— Sim, pastor.
— Acham que devo calar a boca agora?
— Sim, pastor.
Perguntas feitas e respondidas com as mesmas palavras da lição. Deve-se exigir dos alunos que respondam com suas próprias palavras, porque talvez elas conheçam as palavras das respostas sem ter a menor ideia de seu significado.
Joshua Fitch, famoso educador, insiste em que o aluno não use a linguagem das Escrituras em suas respostas, mas que responda à pergunta com suas próprias palavras. Ele dá a seguinte ilustração tomada de Lucas 10:30.
Acerca de quem é esta parábola? Um homem.
De onde ele descia? De Jerusalém.
Para onde ia? Para Jerico.
Nas mãos de quem caiu? Dos assaltantes.
Que fizeram com sua roupa? O despojaram.
Que fizeram com o homem? Espancaram-no.
Em que condições o deixaram? Meio morto.
Observe como o professor abarcou todo o tema da narração e fez uma pergunta sobre cada fato; até aí tudo bem.
Note porém que cada pergunta foi formulada com palavras muito semelhantes às da Bíblia, e requereu como resposta uma palavra apenas, fornecida também pela Bíblia. É muito fácil para um jovem, enquanto os ecos da narração bíblica estão em seus ouvidos, responder cada pergunta mecanicamente, sem nenhum esforço do raciocínio e nenhuma meditação.
Vamos recapitular o mesmo tema, apresentando-o de início com uma ou duas perguntas de introdução. Por exemplo:
Quem pronunciou estas palavras? A quem foram ditas? Por que foram ditas? Repita a pergunta feita pelo doutor da lei.
Do que trata a parábola? De um homem que saiu em viagem.
Que título se dá a quem viaja? Viajante.
Em que região viajava o homem? Pela Judéia.
Sigamos sua rota no mapa. Em que direção viajava? Para leste.
Através de que tipo de região ele viajava? (O professor ensina os fatos mais importantes relacionados aos aspectos geográficos.)
Quais seriam, na sua opinião, as condições daquela região naquele tempo? Ligeiramente povoado; o caminho solitário.
Como podem ter certeza disso? Naquela época os bandidos agiam no ermo. Hoje, assaltam em plena luz do dia, no centro da cidade, no meio do povo.
Dê outra palavra para "assaltantes". Ladrões.
Como os ladrões trataram este viajante? Tiraram suas roupas.
Que mais lhe fizeram? Feriram-no. Maltrataram-no muito.
Como se sabe pelo texto que o maltrataram muito? Porque o deixaram meio morto. Quase o mataram.
Observe que o propósito foi duplo. Primeiro, não sugerir a resposta pela redação da pergunta. Por isso as crianças têm de interpretar a linguagem bíblica em termos da vida atual. Segundo, não se conformar com palavras não relacionadas às perguntas, especialmente com as palavras específicas do próprio texto bíblico. Os alunos deverão usar suas próprias palavras, as mais conhecidas e mais simples.
O princípio de obrigar os alunos a usar suas próprias palavras quando falam ou respondem, você vê bem ilustrado no caso seguinte, relatado por W.P. Spilman. Um menino conta a história da lição com suas próprias palavras.
Foi nas montanhas de Wyoming, alguns quilômetros ao norte de Laramie. Pediram a um visitante que desse uma aula às crianças cujas idades variavam de sete a dez anos. A lição do domingo anterior havia sido sobre o bom samaritano.
Disse o professor: "Qual de vocês, crianças, pode contar-me a lição de domingo passado?" Várias mãos se levantaram. "Conte-nos tudo de que você se recorda", pediu o professor a um menino.
"Bem professor — disse o menino — a lição de domingo passado foi acerca de um assalto num desfiladeiro. Havia um homem viajando e uma quadrilha de bandidos o pegou, e quase o matou. Roubaram seu dinheiro, suas roupas e fugiram. Então passou um médico. Ele disse:
— Desse aí eu não vou curar; ele nem vai poder me pagar!
E seguiu adiante. Depois passou por ali um pregador. Ele olhou o homem e disse:
— Este não é da minha igreja!
E continuou seu caminho. Então chegou um caipira em seu cavalo. Apeou e disse:
— Esse coitado está muito ferido.
Então o colocou em seu cavalo, e o levou a uma pensão, e instruiu o dono:
— Olhe, bateram neste viajante no desfiladeiro e o feriram. Faça o favor de cuidar bem dele. É meu amigo. Aqui está o dinheiro. Se faltar algum, quando eu voltar da fazenda, lhe pagarei."
Vemos que a linguagem em que foi relatada esta parábola talvez não seja literária, mas quem pode duvidar de que aquele menino havia entendido a lição?
Atenção: o professor deve ter muito cuidado em não desanimar um aluno, ao recusar-lhe a resposta, que pode ser imperfeita ou incompleta. Deve o professor, com tato, dar-lhe crédito e corrigir sua resposta. Se o aluno comete alguns erros quando responde, é melhor deixá-lo que continue, sem interrupção, porque o propósito principal quando você lhe faz uma pergunta não ê apenas receber uma resposta exata, mas ensinar o aluno a expressar-se por si mesmo e a compreender a verdade. E ainda que a resposta esteja errada, ela exerce uma função importante: ela orienta o professor a corrigir algum conceito equivocado na mente do aluno.
4. Enfatize as verdades importantes
Não se deve perguntar ao aluno detalhes insignificantes, não essenciais. "Fazer uma pergunta é dar ênfase à coisa perguntada — escreve Weigle — porque se torna o centro do pensamento naquele instante. A questão fica impressa na mente do aluno e adquire certa dignidade e importância em sua visão. Por exemplo, se você lhe pergunta: Quando o Senhor Jesus disse que devemos entrar no aposento, referia-se ao dormitório ou a uma sala qualquer? e perdesse cinco minutos ou mais discutindo o assunto, estaria desperdiçando tempo em detalhes menores; porque o ponto importante da lição não é o lugar da oração, mas a maneira de orar."
A pergunta e a resposta devem formar as duas partes importantes da verdade de que valerá a pena lembrar-se. Por exemplo, você lhe pergunta: "Enquanto Pedro observava o jovem rico retirar-se, que pergunta fez?" (Mateus 19:27-29). O aluno raciocinará como segue: "O que tem a ver o jovem rico com a pergunta de Pedro? Já sei! Pedro estava comparando-se com este jovem rico que havia recusado abandonar tudo por Cristo, e por isto perguntou: 'Nós deixamos todas as coisas, e temos te seguido; o que receberemos?'"
Tomemos outro exemplo: "Que fez Jesus quando percebeu que os apóstolos não praticariam o dever hospitaleiro de lavar os pés uns aos outros?" O aluno dirá a si mesmo: "Bem, vejo uma nova luz neste tema. Cada um pensou que se rebaixaria muito lavando os pés de seus irmãos, então o próprio líder se humilhou e fez com que se envergonhassem."
Temos aqui uns exemplos de perguntas que ensinam, pois uma pergunta boa resulta em uma resposta boa.
5. Mantenha a classe ocupada
Ao fazer perguntas você deve envolver a classe inteira, e não apenas alguns alunos.
Seu propósito como professor é manter todos interessados e ocupados. No que se refere a este item as seguintes sugestões serão úteis.
Evite a predileção. Um professor experiente nos diz: "Sempre há um 'sabe-tudo' com muita vontade de fazer alarde e sobressair, respondendo a todas as perguntas que o professor faz. Isto você não deve permitir. Existem aqueles alunos que só podem responder as perguntas mais simples. Faça a eles as perguntas simples, especialmente no princípio, e faça as perguntas mais difíceis aos alunos mais adiantados. É péssimo demonstrar favoritismo na avaliação das respostas; péssimo para os que respondem e para os que não se sentem à vontade ao responder."
Evite repetir a pergunta em benefício de um aluno desatento. Não convém que o tempo de aula seja perdido por causa de um aluno negligente. Se o professor dirigir-se de imediato a outro aluno, terá ministrado um ligeiro castigo ao desatento, a quem desse modo chamou à atenção.
Pergunte ao mesmo aluno mais de uma vez. Isto evita que o aluno pense que depois de responder a uma pergunta sua tarefa na classe esteja concluída.
Volte a perguntar ao aluno que não responde. Se o motivo de não responder foi causado pela negligência no estudo, ele se lembrará de sua responsabilidade; se a causa é a falta de capacidade, então sua paciência como professor será um estímulo para ele.
Dirija a pergunta a toda a classe. Se você diz: "João Silva, quero que responda a esta pergunta", os demais alunos dirão a si mesmos: "Bem, essa pergunta é do João", e deixarão para ele todo o trabalho. Para obter a atenção de toda a classe, antes de fazer-se uma pergunta, você poderá dizer: "Ouçam atentamente, porque tenho uma pergunta importante para vocês." Havendo despertado o interesse e feito a pergunta, o professor pode escolher um aluno e dizer: "Bem, José, pode responder à pergunta."
Por que escolher José? Porque ele é o rapaz que menos presta atenção à lição. Se ele entender que sua falta de atenção o impede de responder à pergunta, é muito provável que passe a prestar atenção para evitar o "desprestígio" diante de toda a classe.

Que Deus abençoe o seu trabalho, professor, na formação do caráter de crianças e adolescentes, e na renovação dos adultos que se converteram, e devem crescer em Cristo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário