(PEARLMAN, Myer. Ensinando com êxito na Escola Bíblica Dominical. Traduzido por Rejane Caldas. São Paulo: Editora Vida, 1995. 92 p.)
Não
se pode duvidar da importância das ilustrações para esclarecer a lição. O que
fazem as janelas e luminárias em uma casa, fazem as ilustrações à lição.
"Uma ilustração vale dez mil palavras", dizem os chineses. O
professor que quer ter êxito transforma os ouvidos de seus alunos em olhos, e
faz que vejam o que ele está dizendo. Por exemplo, compare as seguintes
declarações:
1.
Se cairmos em pecado será tolice ficar em pecado. Devemos ir imediatamente a
Deus e pedir perdão.
2.
O que você pensaria de uma pessoa que, depois de escorregar e cair em um buraco
lamacento, ficasse ali na lama, lamentando seu acidente e a sujeira em que
mergulhou? Pensaríamos que tal pessoa tem algum problema mental. Uma pessoa
normal se levantaria depressa, tiraria a lama da roupa, iria para casa, tomaria
um banho e mudaria a roupa.
Uma
diferença notável entre uma ovelha e um porco é que quando a ovelha cai na
lama, reclama, mas o porco parece deleitar-se: ele se deita e se revira na
lama.
As
ovelhas de Cristo não devem ficar na lama do pecado se por acaso caírem em
tentação.
Pela
primeira declaração os alunos somente ouvem a verdade; na segunda, eles a veem.
Eles se lembrarão da segunda declaração muito mais facilmente, porque as
"cenas" se encaixam em sua mente como abelhas numa colmeia. É bom,
pois, cultivar a arte de falar fotograficamente. Por exemplo, um escritor quis
expressar a inutilidade de tentar melhorar o que é perfeito, e pronunciou uma
série de imagens visuais: "Tentar dourar o ouro refinado, embranquecer o
lírio, perfumar a violeta." Ele nos fez ver o que dizia.
A
importância das ilustrações recebe muita ênfase por causa do destaque que
Cristo lhes deu em seu ensino. O Senhor constantemente usava parábolas. Ele
disse às pessoas a que se assemelhava o reino dos céus.
Tristeza
e alegria, riso e choro, riqueza e pobreza, fome e sede e muito pão e água,
saúde e enfermidade, brincadeiras de criança, recolhendo e espalhando, o filho
pródigo deixando a casa, a vida no palácio, matrimônio e funeral, a casa
esplêndida dos vivos e o sepulcro dos mortos, o semeador e o ceifeiro no campo,
o fazendeiro entre suas vinhas, o operário no mercado, o pastor procurando a
ovelha perdida, o comerciante de pérolas, a dona-de-casa trabalhando,
preparando a massa fermentada de pão, procurando a moeda perdida, o mordomo
ímpio, a comida terrena que perece. Eis alguns quadros que vivificam os ensinos
do Senhor.
O BOM USO DE ILUSTRAÇÕES
Vamos
estudar alguns princípios que regem o uso correto das ilustrações.
l. A ilustração deve ser mais clara
que a verdade que se quer ilustrar
Um
esclarecimento que exige esclarecimento... na verdade não esclarece nada. O
propósito da ilustração é iluminar um tema que esteja obscuro aos ouvintes. A
ilustração deve esclarecer um ponto de difícil entendimento. Mas se a
ilustração é obscura para os ouvintes, só aumentará a escuridão.
Um
pregador quis explicar algo a um grupo de crianças. Ele disse o seguinte:
"Agora vou explicar o que é a esperança, para que vocês possam ir para
casa e dizer a sua mãe o que é a esperança. Crianças, vocês sabem que a água do
riacho que corre atrás do templo, compõe-se de dois elementos: oxigênio e
hidrogênio. Assim também a esperança se compõe do desejo e da expectativa.
Entenderam?" As crianças ficaram mais confusas. Em vez de lançar luz ao
problema, o pregador submergiu as crianças em densa escuridão. Quais delas
saberiam o significado das palavras: elementos, hidrogênio, oxigênio e expectativa?
2. A ilustração deve interessar o
aluno, e estar relacionada à sua experiência
O
fato de uma ilustração ser do interesse do professor não garante que interessa
aos alunos. Um pregador falou a um grupo de crianças sobre o seguinte tema:
"As saúvas destroem as vinhas". O propósito do pregador era descrever
o dano que causam os vícios e pequenas fraquezas do caráter. À primeira vista a
ilustração-tema parece vivida e adequada. Mas vamos examiná-la com mais
cuidado.
Quantas
crianças haviam visto uma saúva ou sabiam algo sobre esses insetos? Quantas
haviam visto uma vinha? Aquelas crianças nunca haviam ido ao campo onde há
saúvas destruidoras de vinhas e nunca haviam ouvido falar disso. A ilustração
falhou: Não estabeleceu contato com os alunos. O orador teria atingido seu alvo
com perfeição se houvesse trazido uma maçã (ou qualquer fruta) com mancha
escura de podridão, e uma faca. Teria então explicado às crianças que aquela
mancha logo se estenderia por toda a fruta, se não fosse tirada imediatamente.
E que a fruta estragada corromperia outras ao seu lado. Então o pregador lhes
mostraria a fruta cortada, e a área apodrecida. Essa ilustração está ao alcance
da experiência das crianças, porque é provável que todas conhecessem uma fruta
semi-estragada.
Mais
um exemplo: Alguns missionários estavam traduzindo a Bíblia para um dialeto de
certa tribo africana. Chegaram ao versículo: "Ainda que os vossos pecados
sejam como a escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam
vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã." Se traduzissem
este versículo literalmente, não teria significado para os africanos, que nunca
haviam visto a neve. Na verdade, eles nem sequer tinham uma palavra para
expressar neve. Mas haviam comido muitos cocos, e conheciam bem a brancura de
seu miolo. Então os missionários traduziram o versículo como segue: "Ainda
que os vossos pecados sejam vermelhos, eles se tornarão brancos como a polpa do
coco." Esta tradução talvez soe um pouco estranha, mas trouxe a verdade ao
alcance da experiência dos nativos.
3. As ilustrações devem ter uma
relação real com a lição
Não
devem ser encaixadas à força na lição apenas para adorná-la. A ilustração não é
o fim principal, mas apenas uma ajuda para maior compreensão da lição, assim como
os espelhos não são para serem vistos e sim para a pessoa ver-se neles. O
professor deve perguntar a si mesmo: "Faz falta? Esclarece? É
apropriada?" Da mesma forma uma lanterna não é usada como enfeite, mas
para iluminar o caminho.
4. Evite o excesso de ilustrações
Uma
casa que não tem janelas é uma casa escura, mas a que tiver janelas demais
também não é boa. Se você usar várias ilustrações para explicar apenas um
ponto, poderá provocar confusão na mente do aluno.
5. Evite o uso das ilustrações que
causam má impressão
Referimo-nos
àquelas ilustrações que por serem vulgares ou de mau gosto desagradam ou
distraem a classe; na verdade elas mais obscurecem que esclarecem. Por exemplo,
o poder de ação da presença do Espírito Santo numa comunidade foi uma vez comparado
com o horroroso e contagioso sarampo. Esta ilustração é imprópria por duas
razões: Primeira, a natureza e o poder do Espírito Santo não os explicamos
comparando sua obra a uma enfermidade; segunda, não é muito provável que tal
ilustração, por sua vulgaridade, inspire reverência. Antes levará ao medo, à
chacota, em lugar da devoção.
Comentando
o uso de ilustrações, Marion Lawrence escreve: "O orador deve abandonar de
vez toda historieta ou ilustração que possa ofender ou constranger a alguém.
Isto quer dizer que não devem ser feitas referências a pessoas gagás, a pessoas
coxas, ou que tenham algum tipo de deformidade, como lábios leporinos, etc.
Isso é falta de misericórdia; não é próprio do seguidor de Jesus fazer que
alguma pessoa saia da igreja sentindo-se infeliz, porque você fez uns
comentários que lhe recordaram sua enfermidade ou deficiência."
6. Evite ilustrações que possam
sugerir uma ideia má
O
exemplo seguinte é citado por Weigle. "Os alunos de uma classe de Escola
Dominical ouviam uma palestra acerca da força dos hábitos adquiridos na
juventude. Para ilustrar seu ponto o orador disse: 'Meninos, vocês já viram um
piso de cimento?' Todos os olhos se fixaram no orador, e os alunos responderam:
'Sim!' E o orador continuou: 'Vocês sabiam que escrevendo com um prego seu nome
no cimento, enquanto úmido e mole, ao endurecer-se fica ali o seu nome por toda
a vida, enquanto durar o piso? Eu acho que nenhum garoto aqui é tão travesso
que costume fazer isto', acrescentou o orador, muito depressa, ao perceber uma
expressão significativa na face dos meninos. Tarde demais: a ilustração havia
feito seu mau trabalho. O grande desejo de deixar autógrafos para a posteridade
seria executado e satisfeito na primeira oportunidade."
COMO APLICAR AS ILUSTRAÇÕES
Há
duas maneiras ou formas:
1. Cite a ilustração e aplique a
verdade
Por
exemplo:
A
ilustração: Diz-se que quando um atleta sente que seu fôlego está se esgotando,
que seus pulmões não aguentam mais, e está tão extenuado que pensa em desistir,
algo estranho acontece. De repente ele sente as forças voltarem, a fadiga
desaparece e o atleta continua a correr. Esta força renovada é conhecida como
"novo alento".
A
aplicação: Esta ilustração nos ajuda a compreender o que o profeta quis dizer
quando declarou: "Os que esperam no Senhor receberão novas forças."
Se em nossa corrida espiritual, chegar o momento em que nossas forças se
esgotaram, e tivermos desejo de abandoná-la, confiemos em Deus e sigamos
adiante. Pois, esperando no Senhor, receberemos novo alento espiritual.
2. Cite a verdade e aplique a
ilustração
A
declaração: Muitas pessoas estão de acordo em que a oração atua no área
espiritual, inspirando nossas almas, fortalecendo nossa vontade e colocando-nos
em contato com Deus.
Algumas
pessoas não creem que a oração atua também na área material, mudando
circunstâncias e acontecimentos.
A
ilustração: Há muitos anos, Jorge Müller fundou um orfanato, na Inglaterra,
onde mais de dez mil órfãos haveriam de ser socorridos. Milhões de dólares
seriam enviados para as despesas da instituição. No entanto é surpreendente que
jamais Jorge Müller precisasse solicitar fundos publicamente. Qual é a
explicação? Apenas uma: a oração de fé de Jorge Müller.
É
boa tática anunciar a ilustração de tal maneira que retenha o ouvinte em "suspense"
e estimule seu interesse. Assim ele estará alerta, mais receptivo à verdade.
Disse o professor: "Eu ia pela rua Cristã, em Jerusalém, quando me
encontrei com um homem vestido com trajes orientais suntuosos. Portava uma
adaga de ouro curva, usada somente pelos descendentes do profeta Maomé. Mas
este homem não tinha nenhum traço árabe. Seus olhos eram azuis, e os olhos dos
árabes são negros ou castanhos."
Estes
detalhes não despertam a curiosidade? Não nos fazem querer saber mais? Você não
acha que os alunos que antes estavam perdendo o interesse agora aguçam seus
ouvidos? É verdade que uma ilustração deve ser "desembrulhada" diante
da classe como um presente de Natal em casa. Quanto mais bem acondicionado
estiver o pacote, maior será a expectativa. E de modo especial: que não se possa
adivinhar pela embalagem o que está lá dentro.
ONDE CONSEGUIR ILUSTRAÇÕES?
As
melhores ilustrações são as tiradas da experiência e observação do professor
mesmo. Por exemplo, que aluno cochilaria em classe se ouvisse o professor
dizer: "Este versículo me lembra uma experiência de arrepiar, que me
aconteceu no deserto?" Ou: "Quando ia para o trabalho ontem pela
manhã vi o espetáculo mais estranho de minha vida?"
Nossas
experiências ou as coisas das quais temos sido testemunhas podem ter uma força
peculiar para despertar o interesse dos ouvintes.
A
revista da Escola Dominical provê boas ilustrações, mas é bom você colecionar
um punhado delas. Nada ajuda tanto a recuperar o interesse perdido do que uma
boa história.
Há
muito livros de ilustrações que podem ser de proveito. É verdade que algumas
pessoas não têm conseguido muita ajuda em tais livros. Todavia, se lidos de
forma proveitosa, podem ser de grande valor.
Talvez
você deseje saber exatamente como usar o caderno de anotações na preparação da
lição. No princípio de cada novo trimestre, seria excelente dedicar um pouco de
tempo para "passar em revista" a série inteira, tendo assim uma ideia
das lições que serão estudadas nesse período. Feito isso, o professor está preparado,
e à espera de ilustrações apropriadas. Caminhando pela rua talvez note algo que
ilustre muito bem a lição 5. Toma então seu caderno e anota o título:
"Lição 5". Nesta página anota o fato que presenciou, como ilustração
que vai usar.
Outro
dia, enquanto lê o jornal, talvez uma notícia ou fato o impressione, provendo
um bom início para a sexta lição; de novo toma a caderneta e registra em outra
página o título: "Lição 6". Recorta o trecho do jornal e o cola à
página. Ou, estando a caminho do trabalho, no ônibus, lembra-se de alguma
experiência pessoal que certamente ajudará a atingir o propósito da lição 11.
Anota-a brevemente. Quando chegar a casa faz uma anotação detalhada. Tudo isto
é uma maneira de dizer que o professor alerta estará sempre na expectativa de
encontrar algum material para sua lição, como o diligente jornalista está
alerta para uma boa reportagem. E uma vez formado o hábito de
"arquivar", este chegará a ser um meio de enriquecer seu ensino.
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